GUERRA E PAZ: ASPECTOS OCULTOS DA GANGORRA HUMANA DE SOFRIMENTO
Por que escrever sobre a guerra ?
Neste março de 2022, quando a invasão da Ucrânia pela Rússia nos traz de forma chocante o fantasma da guerra, nos cabe abordar o tema.
Aquelas pessoas mais próximas de sua natureza divina, as que já tomaram consciência que todo o planeta Terra é um só organismo, aquelas que sentem compaixão por qualquer ser que sofre, este tipo de indivíduo sente o coração apertare até doer quando tem notícias de guerras. Podemos até dizer, no sentido contrário, que ficar impassível e inerte diante de uma guerra denota embrutecimento e perda de valores humanos, indica degeneração da alma.
As guerras são o contrário de tudo que é bom, trazem violência, sofrimento, vítimas inocentes, soldados jovens compelidos inconscientemente a matar e morrer; guerras são trevas e dor, marcam as pessoas por muitas gerações e até, individualmente, cada um de nós por várias vidas posteriores. Mesmo que inconscientemente, todos nós temos traumas de guerra: matar, morrer, sofrer, fome, frio, doença, fugir, pavor, destruição…
Podemos trazer alguns números hediondos desse terror: invasões mongóis de Gengis Khan no século XII: 70 milhões de mortos; repressões chinesas a revoltas religiosas no século XIX: 100 milhões de vidas perdidas; 1ª guerra mundial: 20 milhões de perdas humanas; guerras civis russa e chinesa na primeira metade de século XX: 15 milhões de mortos; 2ª guerra mundial: 80 milhões de vítimas fatais; guerra fria EUA-URSS no pós guerra: 20 milhões de pessoas perdidas… E para cada morto há muitos parentes que sofrem, se traumatizam, ficam desassistidos, têm seus futuros frustrados: são mães, pais, avôs, esposas, filhos, irmãos, amigos, alunos, crianças, bebês… todos marcados pela brutalidade da guerra.
Por isso que Samael Aun Weor, sociólogo gnóstico e pacifista do século XX, na busca de evitar este flagelo e apontar uma solução, ensina que a guerra é devida à inconsciência das pessoas:
“ Os humanoides intelectuais equivocadamente chamados de homens
possuem na verdade somente uns 3% de Consciência; se tivessem pelo
menos 10% de Consciência, as guerras seriam impossíveis na face a Terra”.
Algumas consequências Ocultas da Guerra Além das já conhecidas perdas de vidas, sofrimento, enriquecimento de uns e miséria de outros, desenvolvimento tecnológico, redefinição de fronteiras, fortalecimento de ideologias e outros fatores, a guerra também traz consequências terríveis que se estendem por séculos, as quais nem sempre são abordadas por historiadores, sociólogos e até religiões. Eis algumas dessas consequências ocultas ou invisíveis: traumas nas almas dos mortos – e também nas de seus parentes – o que ecoa por várias vidas futuras de todos os envolvidos; quebras de populações inteiras, principalmente combatentes masculinos, chegando a distorções na formação de família e levando à poligamia oficial, por exemplo; sumiço de culturas e de valores
característicos de cada povo, os quais normalmente levaram dezenas de milhares de anos (ou até mais) para se formarem; agressão ao ambiente, com animais, plantas,
rios, lagos, atmosfera etc. sendo vítimas inocentes das armas de destruição; e, talvez a pior das consequências, a banalização da dor alheia, da opressão pelo mais forte, da
violência… ver as guerras como coisas naturais, justificáveis e até necessárias.
Novamente o filósofo Samael nos traz sabedoria sobre este ciclo vicioso:
“ Toda época de paz é sucedida por uma época de guerra e vice-versa.
Somos vítimas da Lei do Pêndulo e isso é doloroso. Se queremos ver os dois
aspectos da cada questão (guerra e paz), se faz necessário viver não
dentro da Lei do Pêndulo, mas sim dentro de um Círculo Mágico, fechado”,
referindo-se à fluência virtuosa de energias e riquezas de forma
harmoniosa, sem as polarizações instáveis das épocas de guerra e paz.
Motivações Geopolíticas e Econômicas da Guerra
Os estudiosos acadêmicos da guerra costumam indicar origens geopolíticas e/ou econômicas para os conflitos armados, como busca de territórios, imposição de ideologia (religião, estruturação social, modelo político etc.), disputas de mercados, garantias estratégicas de energia (petróleo, gás, urânio) e matérias primas e até, o que ainda não se fala muito mas será sem dúvida motivo futuro para guerras, riquezas naturais e da biodiversidade, como temos em nossa Amazônia que é planetária.
Relembrando Samael Aun Weor, mestre da gnose contemporânea:
“A ganância exorbitante, o conflito de mercados, a competição bárbara e
o ódio, levarão a humanidade à terceira guerra mundial ”.
Todas essas motivações são materiais e temporárias, circunstanciais, por dependerem da cultura, da época e da necessidade de cada povo.
Quem poderia pensar que já tivemos guerras por ópio, por peles de castor, por toras de pau-brasil, pelo direito de escravizar outras pessoas ? Ou ainda, que 3 religiões disputaram em inúmeras guerras – e continuam se estranhando, com ódio e sem perdão, pela cidade de Jerusalém, considerada sagrada para Judaísmo, Islamismo e Cristianismo. Como pode algo sagrado ensejar guerras ? Qual dos 3 Deuses, legisladores, profetas ou messias é o melhor ? Isso nada tem a haver com Deus. Isso é coisa de homens degenerados, afastados do espírito.
Para essas disputas inconscientes só há uma resposta, sintetizada por Samael:
“ Lançam-se à guerra, mas não querem a guerra, porém
sempre vão, ainda que não queiram… Por quê ? Porque estão
hipnotizados”.
Motivações Psicológicas e Individuais da Guerra
Aqui o “bicho começa a pegar para o nosso lado” como se diz no vulgo, pois nos acostumamos mais a criticar os outros, o vizinho, o presidente, o país amigo ou inimigo, do que a nós mesmos. Desde pequenos somos induzidos a explicar, justificar, olhar para fora, desviar-nos de nosso interior, encontrar a culpa no outro. Todos nos eduzem à ambição, ao sucesso, ao emprego, ao dinheiro, ao prestígio, à personalidade digital para termos milhares de seguidores na redes sociais. Pouco se ensina a olhar para si mesmo, compreender a si mesmo, criticar a si mesmo, se auto-aperfeiçoar. Conciliar ao invés de polarizar, apaziguar ao invés de conflitar, dialogar ao invés de discutir, enriquecer-se com a opinião do outro ao invés de tentar mudá-la para que seja igual à nossa. Virtudes como empatia, generosidade, respeito, compaixão, mansidão são pouco cultivadas em nossa sociedade. E assim sempre foi, desde os tempos em que a maior tecnologia disponível era saber fazer fogo. Houve raras culturas, em pequenos períodos de sua história, as chamadas Civilizações de Ouro, em que esses valores do espírito resplandeceram, como no Egito Antigo, na Suméria, na Grécia dos sábios, no México pré-colombiano…
Portanto, a motivação psicológica para a guerra está na própria beligerância que todos carregamos. Sabe aquela impaciência na fila do supermercado ? Aquela irritação com o outro motorista mais “barbeiro” no trânsito ? Aqueles segundos em que o ódio dentro de nós nos impele a agredir outra pessoa ? A sentenciá-la de burra, idiota, ignorante ? A xingá-la, a querer que ela suma e morra ?
Este é o motivo oculto das guerras, respeitável acompanhante dessas linhas. Este agente agressor está dentro de você, de mim, de todos nós.
Na soma desses inconscientes individuais violentos está o inconsciente coletivo beligerante que leva a humanidade às guerras periódicas, mecanicamente sujeitas à lei do pêndulo como vimos anteriormente.
Novamente trazemos as insubstituíveis palavras do mestre Samael:
“ A raiz da guerra se encontra no indivíduo. Enquanto o indivíduo continuar
com seu egoísmo, suas ambições, seu ódio, sua cobiça haverá povos assim
e eles criarão líderes, chefes poderosos que nos levarão como bois ao
matadouro, isso é tudo”.
“ Quando os valores grosseiros do mundo ocupam nossa mente, o
resultado é a fome, a miséria, a guerra, a ignorância, as doenças etc.”.
Mas qual é a saída então para as Motivações Individuais para a Guerra ?
A resposta está também no próprio indivíduo. A Psicologia Gnóstica nos ensina a estudar o ego, a compreender os defeitos psicológicos, a eliminar de nossa psique os elementos infra-humanos da ambição, do ódio, do orgulho, do medo, da violência, da crueldade. Ao mesmo tempo, na gnose primamos pelo desenvolver das virtudes, nutrir a humildade, a serenidade, a temperança, a compaixão etc.
As religiões fracassaram neste processo: só com repressão moral ou “medo de ir para inferno” as pessoas não mudam definitivamente, só ficam boazinhas um tempo para ganhar benesses de Deus ou para morrerem “perdoadas” e aguardarem a salvação, mas na verdade são, nas palavras de Jesus, “sepulcros caiados”, podridão psicológica travestida de bons cidadãos.
O ego, o mal individual, o impulso egoísta e agressor, continuará bem escondido na psique de todos, para se manifestar na primeira oportunidade. E ele nos leva à violência, à guerra.
Não é o diabo ou um ditador qualquer que provoca guerras… é o ego de todos, a soma do mal do mundo capilarizado no ego de cada um. Chocante não ?
Minha própria psique densa colabora para as guerras… Sou responsável… Coloco eu uma fagulhazinha neste incêndio de dor.
Mas se colaboro na causa, posso ser também a solução. Veja que límpida é a visão de Samael Aun Weor a respeito:
“ Devemos viver a doutrina da não violência. A-Himsa deve ser o
fundamento do viver diário no escritório, na fábrica, no campo, no lar, na
rua etc. “.
Motivações Ocultas ou Místicas da Guerra
O Gnosticismo, ao estudar e vivenciar de forma científica e filosófica a sabedoria milenar de vários povos e mestres, nos permite uma profunda visão das motivações ocultas ou místicas da guerra, mais além daquelas causas Geopolíticas, Econômicas e Psicológicas que abordamos anteriormente.
Portanto, com base nessas tradições, podemos afirmar que a existência das pessoas faz parte de um grande processo em que a Divindade nos permite escolher nossos pensamentos, emoções e ações, usando o livre arbítrio individual e a capacidade e amar para que nos aperfeiçoemos.
E isso não ocorre mecanicamente, automaticamente; é questão de Vontade, de auto-determinação, de ação deliberada, com esforço consciente.
E neste “grande laboratório do Logo Solar”, como diz Samael Aun Weor, há treinadores e jogadores de dois times. Os treinadores são os sábios e as divindades, os jogadores são os fazedores do bem e os opositores são os representantes do mal, das forças que se alimentam da dor e do sofrimento, da guerra e do caos, da opressão e do medo. Esses representantes do mal são chamados de muitas formas: o Diabo, o Mal do Mundo, a Loja Tenebrosa, Satã, o Anti-Cristo etc.
Nossa existência é um grande jogo de xadrez em que há pedras claras e escuras, sendo mexidas por tais agentes, sem que percebamos.
Cada vez que eclode uma guerra, há lances decisivos neste xadrez da Mágico-Política e da Psico-Política mundiais. Há seres superiores, Luminosos, querendo que a humanidade amadureça, evolua e não entre no sofrimento; assim como há seres inferiores, Tenebrosos, que apostam e se mobilizam pela dor, pelo caos e pela morte.
Sobre este aspecto, Samael Aun Weor nos conta do mestre alquimista Saint Germain, que “maneja a política mundial tão formidavelmente, alguém que conhece a Psico-Política e sabe de verdade manejá-la, adaptando-se às condições diplomáticas do mundo”. Num dos encontros entre estes dois mestres, disse Saint Germain a Samael, referindo-se às guerras e sintetizando a necessidade de trabalho psicológico individual profundo de cada um:
“ Hoje devemos trabalhar de baixo para cima; antes trabalhávamos de
cima para baixo “.
Também podemos citar, mesmo que brevemente, outros três fatores místicos ou ocultos para esses grandes conflitos sangrentos, todos embasados em tradições legítimas e divinas ao longo dos tempos. Nos tratados da Índia antiga, o Mahabharata por exemplo, muito se alude ao Karma dos Povos, deixando claro que algumas guerras têm forte componente cármico, ou de dívidas de determinado povo e grupo de almas perante a divindade e a harmonia universal. Já antiquíssimos tratados de Astrologia citam fenômenos como o Solionensius – um tipo de Influência do Cosmos, ou perturbação magnética-gravitacional gerada pela aproximação de gigantescos astros do nosso Sol, quando grandes convulsões sociais ou instintos bélicos são despertados nas pessoas. Os sábios orientais ainda citam o Askokin, uma energia especial que o planeta Terra precisa que os homens produzam, quando há trabalho e evolução espiritual verdadeira; quando o Askokin não é produzido voluntariamente, a carga psíquica planetária fica carregada e os homens vão ao embate violento uns contra os outros.
Há alguma guerra legítima e justificada ?
Sim, e ela é única: a Guerra contra si mesmo, aquela que nossa Essência ou Real Ser trava com nossa sombra, a maldade dentro de nós, o ego, nossos defeitos
psicológicos.
Esta guerra, se fosse travada e vencida por todos, eliminaria completamente a guerra externa de um humano contra o outro.
A esta guerra se submeteram Jesus nos 40 dias de tentação no deserto, Francisco de Assis em suas “febres e loucuras” prévias à sua santificação, Kwan-Yin quando renunciou ao Nirvana para cuidar da humanidade doente, o Buda Sakiamuni quando foi tentado por Mara sob a figueira.
E aqui não nos referimos a ler um livro sagrado e repeti-lo como um papagaio, ou a seguir uma religião, convertendo-se passivamente e enchendo-se de fervor e fé inconsciente.
Este tipo de guerra contra si mesmo só é travada pelos Guerreiros do Espírito, pelos Combatentes da Consciência, pelos Soldados do Cristo Íntimo, pelos Arjunas que ouvem o Krishna Interno, pelas Joanas D´Arc que comandam os exércitos de virtudes internas, pelos Cavaleiros-Águias da sagrada Anahuac do México antigo, em suas Guerras de Flores.
Só quem trabalha muito sobre si, psicológica e inteligentemente, pode vencer esta guerra contra si mesmo e receber as Flores do Espírito.
Até nos arriscamos a dizer que aquele que não tem capacidade de lutar contra si mesmo, aquele que não busca o bem dentro de si, extirpando as sombras do mal de sua psique, não consegue melhorar o mundo e, mais terrível, depois tenta destruí-lo por meio da violência e da opressão exteriores, atacando o irmão ao lado.
Diria um velho sábio Persa:
“Derrote teu inimigo interior e a Paz florescerá a todos os teus irmãos
exteriores”.
O Papel da Gnose diante das Guerras – o que podemos fazer
O objetivo da Gnose é engendrar dentro de cada pessoa a Paz Verdadeira, profunda e psicológica. E isso não é questão de pensamentos ou filosofias vãs, trata-se de uma ação deliberada, prática, consciente e constante. Só conquista a Paz quem elimina o ódio, a ambição, o apego, o orgulho e tantos outros inimigos dentro de si mesmo.
Novamente, evocamos a pena áurea de Samael Aun Weor para dar substância ao que é a Paz:
A Paz é o perfume delicioso do Coração Tranquilo.
A Paz não é coisa de projetos, política internacional, ONU, OEA, tratados
internacionais ou exércitos invasores que batalhem em nome da Paz.
A Paz não é questão de fantasias românticas ou questão de belos sonhos.
A Paz nasce em nós quando mudamos radicalmente e de forma íntima.
Portanto, a você que nos acompanhou nessas reflexões sobre a Guerra e a Paz, neste século XXI em que tantas guerras estão ocorrendo e muitas ainda virão, talvez até uma Deflagração Nuclear que elimine temporariamente a vida humana na Terra, faça sua parte: transforme a si mesmo, busque a Deus de dia e de noite, imite seus Filhos e Filhas Enviados, invista no bem e na generosidade, pratique o A-Himsa (não violência), tenha compaixão por todos os Seres, aja realmente com caridade e auxílio a teus irmãos, ore-reze-mantralize os sons sagrados para que todos recebam Luz e Consciência, oficie o Tonglen Tibetano – transforme a dor em alegria, o mal em bem.
Assim a Paz estará com todos nós, como perfume nos corações do mundo !
Sérgio Linke é engenheiro e instrutor de Gnose