MAAT E ANÚBIS: DEUSES EGÍPCIOS DENTRO DE NÓS
O Antigo Egito produziu uma das mais esplendorosas e duradouras civilizações que a humanidade já viu, levando os ecos de sua espiritualidade e cultura às tradições hebraicas, persas, gregas, helênicas, romanas, cristãs e muçulmanas, vale dizer, a todo o ocidente.
Os ancestrais arquétipos egípcios sempre relacionaram a dinâmica do mundo ao Caminho do Sol, à Barca Solar de Osíris, com sua jornada diária que começava no nascente como Kephra, reluzia ao meio dia no azimute do Nilo como Rá e concluía sua viagem no poente como Tum. Osíris cuidava dos Céus e Ísis zelava pela Terra. E, além das deidades celestes e da Terra, também veneravam a Constelação de Órion, para onde iria o Faraó (literalmente “Filho de Osíris-Rá na Terra”) quando morresse.
Mas quem cuidava da Ordem de tudo isso ? Quem organizava os céus e a Terra para que a Serpente da Noite (Apopi) ou a ignorância humana não precipitassem tudo ao caos e à destruição ?
A resposta está nesta verdadeira joia do gênio humano que é o Livro Egípcio da Vida e da Morte, que descreve os processos em vida e no pós-vida para que uma alma possa se libertar. E a cena central do Compêndio Egípcio ocorre justamente na Sala de Maat, onde a alma em transição é julgada. E ela nunca está só: é acompanhada por Osíris e Ísis, tem as anotações de seus atos lidas por Íbis-Thot, com Maat e Anúbis oficiando a cerimônia da Pesagem do Coração. Se o coração do julgado, representando sua pureza de espírito, for mais leve que uma pena, ele será conduzido aos céus, à Região dos Bem Aventurados. Se o coração estiver denso de seus desejos, apegos e maldades – mais pesado que a pena – um outro deus chamado Ammut se encarrega de levar o espírito do morto para a purificação no Duat (os infernos egípcios). Vê você, estimado leitor, alguma analogia com o julgamento dos mortos nas religiões Abramânicas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) ?
Maat é portanto a Deusa egípcia da Ordem e do Amor, é a Mãe de Compaixão para os antigos egípcios, como a Kwan-Yin Budista, a Ishtar Persa ou a Compadecida Maria Cristã, Nossa Senhora. Maat é a Divindade da Verdade, da Justiça, da Retidão e da Harmonia. A Maat egípcia inspirou o símbolo da justiça humana atual, onde uma dama (que originalmente não tinha os olhos vendados) cuida da balança com uma espada na mão.
Para a Divina Maat deveria o morto fazer suas 42 Confissões Negativas no Salão da Verdade e da Justiça, clamando de alto verbo e coração leve: não roubei, não menti, não fiz ninguém chorar, não poluí a natureza, não bisbilhotei, não fofoquei, não profanei meu corpo… Podemos até ver os Dez Mandamentos de Moisés dentro das 42 Diretivas Egípcias de Maat. Reflita comigo, leitor sagaz: você estaria preparado agora para passar incólume pelo Salão Egípcio da Verdade e da Justiça, recitando as 42 Negativas ?
E as bondades e atribuições de Maat iam muito além do julgamento dos mortos. A Deusa da Justiça Egípcia, além de garantir o equilíbrio básico do universo, perpassava toda a natureza e a sociedade egípcia: harmonizava o ciclo das estações, ditava o calendário religioso, os negócios humanos justos (comércio), bem como balizava a honestidade e a confiança nas relações sociais. Isso era tão observado que, se atualmente um presidente eleito numa República jura obedecer a Constituição Federal em seus atos, há 5 mil anos o Faraó jurava seguir as Leis de Maat em todo Egito, por toda sua vida.
Ao lado de Maat, outro Valor Universal é o arquétipo de Lei encarnado por Anúbis, o Deus Egípcio com cabeça de chacal, cuja figura é tão mal compreendida e equivocadamente utilizada nos filmes e jogos digitais atuais.
A Divindade Egípcia Anúbis nada tem a haver com violência ou terror. Ele era o preparador do ser humano para a Ressurreição, para o Renascimento, cuidando do morto (a múmia) para que ele continuasse sua jornada nos céus.
Anúbis sintetiza o arquétipo do Cuidado, da Atenção, do Preparo para o Divino, da premiação aos bons e da correção aos ruins; é o distribuidor de Karmas (pagamento de dívidas pelos pecadores) e Darmas (dádivas brindadas pela divindade aos virtuosos).
Além de distribuir dons e aprendizados, o Mestre Anúbis cuida com Maat dos procedimentos da Pesagem do Coração, ou seja, verifica se a alma está leve e desprendida, se ela deixou para trás o egoísmo e o apego, o desejo e a ambição. Todo este imenso trabalho de Amor é feito pelo Deus Chacal Egípcio, implacável em seu Ofício Sagrado.
E, como todos os Deuses das Religiões Solares, Maat e Anúbis representam partes íntimas de nosso próprio Ser, raios de nossa própria individualidade espiritual, ensinando-nos a psicologia do equilíbrio, da ordem, da justiça, da correção, do preparo, da transcendência, do desapego, do respeito às Leis.
Exatamente por isso ensinou o mestre gnóstico contemporâneo Samael Aun Weor: “As Divindades do país ensolarado de Kem (o Egito) estão dentro de nós… aqui e agora… basta que as invoquemos”.
Portanto, atento leitor, reconheça dentro de si mesmo as virtudes de Maat e de Anúbis, da Lei, do Amor e da Ordem, para que você as exerça em todos os seus atos, unindo seu Universo Interior a essas Sublimes Divindades Egípcias, para que Elas o conduzam à sua própria Heliópolis Interior, onde só reina a Paz e a Felicidade.
Sergio Geraldo Linke
Engenheiro, Executivo do Mercado Financeiro e Instrutor de Gnose