HIPÁCIA DE ALEXANDRIA: FILOSOFIA GNÓSTICA REVOLUCIONÁRIA

HIPÁCIA DE ALEXANDRIA: FILOSOFIA GNÓSTICA REVOLUCIONÁRIA

Hipácia ou Hipátia de Alexandria, genial filósofa grega do quarto século depois de Cristo, é daquelas grandes personagens que bem representam uma época de transição de civilizações. A bela e sábia professora Alexandrina também é um dos luminares da genialidade feminina, reluzindo ao lado de Maria Profetisa, Dame Pernelle, Teresa D´Ávila, Maria Magdalena, Hildegard von Bingen, Helena Blavatski e tantas outras.

Alexandria foi a capital helênica do Egito, onde confluiam as culturas grega, egípcia, romana e de todos os povos mercadores que se utilizavam do grande porto sinalizado pelo famoso farol. Também pessoas judias e os cristãos, empoderados pela nova religião do império romano, disputavam a fé do povo com os sacerdotes do deus egípcio Serápis. Produto desse cosmopolitismo e de uma intensa atividade mercantil, a cultura em Alexandria era fantástica: tinha um museu que fazia intensas pesquisas, uma academia onde lecionavam os maiores gênios da época e uma biblioteca gigantestca e riquíssima, segundo alguns historiadores com mais de 700.000 volumes. A maioria dos estudiosos até concorda que com a morte de Hipácia e com o incêndio da biblioteca de Alexandria brilharam os últimos expoentes da filosofia grega clássica.

Neste fértil caldo cultural no delta do Rio Nilo tentavam se amalgamar a filosofia grega (Arquimedes, Euclides, Ptolomeu, Plotino e Hipácia), as tradições gnósticas do oriente e do ocidente (Basílides e Valentin), a espiritualidade hebraica com sua expressão formal (a Torá) e mística (a Cabala), o nascente cristianismo romano (Teófilo e Cirilo), tudo isso no palco egípcio formado pelas milenares areias douradas de Serápis (Osíris-Ápis).

A cidade fundada por Alexandre o Grande em 332.a.C. também viu de forma cristalina o alinhamento das ideias neoplatônicas e gnósticas, as quais posteriormente inspiraram grandes sábios como Santo Agostinho, al-Farabi e Maimônides. Por outro lado, tal luz de sabedoria helênica ofuscou com “perigosas ideias heréticas” o nascente cristianismo institucional, o qual perseguiu e tentou aniquilar com violência os gnósticos buscadores da Verdade. Esta convergência neoplatônico-gnóstica gerou uma torrente de “perniciosos pensamentos” que pode ser sintetizada em quatro linhas: 1) o êxtase, revelação ou epifania é a ferramenta por excelência para se chegar a Deus, independendo de intermediários; e aqui o risco de enfraquecimento da igreja institucionalizada e política. 2) entender a forma como a alma se afastou da felicidade divina e como ela pode retomar o caminho ao Eterno Ser Supremo (o Mito Gnóstico da Queda e Redenção de Sophia); e aqui a possibilidade da espiritualidade auto-adquirida, sem a velha teologia do medo de diabos e infernos. 3) a necessidade de se tomar consciência de que existe um mundo comum (fenomênico e visível) e outro mundo superior (espiritual e invisível), onde a divindade emana sua essência (nous) em cada ser humano; e não somente naqueles protegidos pela “Santa Madre Igreja”. E, por último, 4) todos os seres humanos podem retornar ao Ser Supremo, à Fonte Eterna, mediante seus próprios esforços (vivências) da gnosis ou sabedoria divina, vale dizer, todos os seres humanos têm iguais condições, independente de seu sexo, classe social, cultura ou crenças. Fortes e profundos pontos filosóficos. Se você fosse, caro leitor, um ambicioso e fanático clérigo da nascente igreja romana da época, nao acharia essas ideias perigosíssimas para seus objetivos políticos ?

Neste contexto de choque de civilizações surgiu Hipácia de Alexandria (351 – 415 d.C), numa época em que o Cristianismo passava de perseguido a perseguidor, onde as mulheres eram propriedade dos homens e não tinham voz cultural nem política. Hipácia foi uma excepcional polímata: filósofa, matemática, astrônoma, inventora, mestra de religião, direito, lógica, ética, poesia, oratória e retórica. Formada por seu pai Teón em Alexandria e depois em Atenas, a filósofa gnóstica era o ideal grego de perfeição: linda, sábia e atuante. Porém, todos os Rebeldes do Espírito e os Defensores da Verdade pagam um preço… A bela Hipácia foi bárbara e covardemente martirizada, sendo humilhada, caluniada, arrastada, despida, violada, torturada (teve a pele e as carnes arrancadas com conhas), esquartejada e queimada. A Mestra de Alexandria foi acusada de bruxaria, paganismo e prostituição pelo bispo Cirilo de Alexandria – que depois tornou-se doutor e santo da Igreja Romana – que bárbara ironia. Hipácia, da mesma forma que Sócrates e Jesus, morreu defendendo seus ideiais gnósticos de liberdade de pensamento, de religião universal, de igualdade entre homens e mulheres, de contemplação místico-filosófica e de busca incessante pela verdade. Ela foi brutalmente assassinada por uma turba de fanáticos devido a um “grave pecado”: orientar com moderação e virtude o prefeito Orestes, transformando-se assim numa ameaça ao poder e à ambição do Patriarca de Alexandria, o cruel e calculista Bispo Cirilo. A história se repete: tirania política e pseudo-religião podem se embater ou se associar, mas sempre sacrificam os sábios e os mestres.

Hipácia encarnava, na leveza de suas ações e na concretude de sua entrega à humanidade, a vida de uma gnóstica consciente de seu papel no mundo: sempre sedenta de verdade, moderada, discreta, cuidava do corpo e do espírito, virtuosa, estudiosa, não se entregava aos prazeres mundanos, adorava resolver problemas (principalmente aqueles matemáticos mais difíceis – era famosa por isso) e disposta a lutar até a morte pela integridade da biblioteca de Alexandria e pela  liberdade do ser humano.

O exemplo da sabedoria gnóstica de Hipácia pode ser admirado na síntese magistral do mestre contemporâneo Samael Aun Weor, ao afirmar que a gnose é “uma filosofia perene e universal, um funcionalismo muito natural da consciência humana” e que a gnose “é conquistada com Thelema – vontade consciente”.

Hoje, mil e seiscentos anos depois de Hipácia, parece que pouca coisa mudou em nossa sociedade… Talvez de diferente tenhamos apenas as formas como as pessoas são manipuladas e escravizadas. Por isso a obra e o exemplo de Hipácia, verdadeira Mártir Gnóstica Alexandrina, ecoam tão forte em nossas consciências, como um grito da alma por liberdade, ou como um suspiro do espírito com saudades da Verdade, ou ainda, os clamores por luz da Divina Pistis Sophia dos Gnósticos, ao constatar que perdera o Pleroma e que estava no Caos entre os homens.

Todos os louvores a Hipácia de Alexandria, mulher e corajosa, mestra de filosofia e amante dos astros, inventora de instrumentos e enamorada da geometria e da aritmética, oradora eloquente  e contempladora mística… Todo homem e toda mulher que aspiram a Verdadeira Liberdade de Espírito deveriam se espelhar na Mestra Gnóstica de Alexandria.

 

Sérgio Linke é engenheiro, profissional do mercado financeiro e líder gnóstico.

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