A MÍSTICA DO CARNAVAL: de cerimônia sagrada a festa folclórica
Carnaval – hoje festa folclórica e turística:
O Carnaval atualmente é visto como uma grande festa folclórica e turística, sendo famosas as festividades em Nova Orleans (EUA), Veneza (Itália), Santa Cruz de Tenerife (Espanha), Cartagena (Colômbia) e principalmente no Brasil, onde somente no Rio de Janeiro, Recife e Salvador a festa atrai vários milhões de pessoas – é até chamada de “a maior festa da Terra”.
Carnaval – ontem cerimônia religiosa à Primavera:
O que poucos sabem é que as origens do Carnaval remontam à antiguidade e a cerimônias religiosas ancestrais, as quais passaram por várias fases diríamos de esquecimento e de degeneração: se começaram como Procissão Solar Religiosa, atualmente há até festas carnavalescas regadas a drogas, violência e abusos sexuais.
A história oficial vai remontar a origem do Carnaval ao Antigo Egito, 4 ou 5 milênios atrás, quando a estátua sagrada da Deusa Ísis (Serápis, em algumas cidades egípcias) era levada em procissão, com hinos (cantos) e adoradores finamente trajados, desde o Templo até o Rio Nilo, para que abençoasse as cheias que viriam e que propiciariam o início de uma Nova Vida (a Primavera), com fertilidade, plantio, alimentos, abundância. Havia festa entre o povo que acompanhava a procissão, com músicas, danças, comida e bebida. Naquela época a estátua representava a própria Deusa na Terra e por isso raramente saía do Templo. Ísis era levada em Glória até Hapi (o Rio Nilo) em um “carro alegórico” lindamente adornado com flores e tecidos coloridos.
Nesta mesma linha de Procissões Glorificando a Mudança de Estação, pré-anunciando a fertilidade e a fartura, os Babilônicos festejavam as Sacéias e a Adoração Primaveril a Marduk; os assírios faziam procissões a Ishtar, inclusive usando máscaras ao acompanhar o carro-barco da deusa até o Rio Tigre; os gregos antigos comemoravam as bacanais (festas ao Deus Baco, que mais tarde tiveram o sentido de seu nome pejorado para festas sexuais); os hebreus realizavam a festa das sortes e na Roma Antiga tivemos as Lupercais e as Saturnálias. Havia ainda as tradições celtas e nórdicas, onde nas tribos germânicas uma estátua de Nerto ou Frey era colocada em um navio com rodas e acompanhada por uma procissão de pessoas disfarçadas de animais e homens vestidos de mulheres, para saudar o fim do inverno e a chegada da Primavera. Em todas essas festas havia muita semelhança com o feriado carnavalesco atual: as festas duravam 5 dias, tudo fechava, todos tinham folga e o povo cantava e dançava pelas ruas.
Então começaram as degenerações: o povo com o tempo “emendou a festa” e a bebida e os excessos começaram… Em Roma, por exemplo, homens e mulheres nus desfilavam em carros alegóricos chamados de “carrus navalis” (carro naval), pois tinham formato de navio – daí uma das origens aventadas para o termo Carnaval.
Você, que nos acompanha neste arrigo, vê alguma semelhança com os desfiles atuais das escolas de samba, com grandes e luxuosos carros alegóricos com belos homens e mulheres se contorcendo nus ou seminus ? Nada de novo sob o Sol e o inconsciente coletivo arquetipal continua vibrando por milênios, levando as massas…
Carnaval – cristianização e festa brasileira:
Com o declínio do Império Romano acentuado nos séculos III e IV e a ardilosa obtenção de “exclusividade para divulgar o cristianismo” pela Igreja Romana na época do Imperador Constantino, o esperto clero buscou aproveitar as festas pagãs adaptando-as às festas Cristãs, como fez com o Natal e com as comemorações Marianas, por exemplo. Mas estas festas originalmente sagradas já estavam degeneradas e os antigos Mistérios das Procissões Primaveris foram perdidos, inclusive porque os cristãos gnósticos foram perseguidos e abafados pelos fanáticos clérigos romanos da época, em conluio com os decadentes imperadores romanos. A opção eclesiástica foi pela expansão a todo custo, pela riqueza e pela política. Os Mistérios Iniciáticos das festas que depois tornaram-se o carnaval foram velados e guardados por pequenos grupos.
A Igreja Romana então ligou as antigas procissões sagradas à Páscoa (festa claramente solar, que até hoje é agendada como o primeiro domingo após a primeira lua cheia da primavera – março – no hemisfério Norte). Então os padres contaram 46 dias antes da Páscoa (40 da Quaresma mais 6 da Semana Santa) para chegar à Quarta-Feira de Cinzas. O dia anterior é a “terça feira gorda” – o Carnaval propriamente dito.
Estava pronta a autorização para o povo comemorar e festejar, agora com excessos e degenerações, durante 5 dias (de sábado de carnaval até a 4ª feira de cinzas) antes que a quaresma de purificação iniciasse na 4ª feira. Era o “carnis levale”, cujo significado é “retirar a carne” – esta a segunda versão para a origem do termo Carnaval. Esse sentido está relacionado ao jejum que deveria ser realizado durante a Quaresma e também ao controle dos prazeres mundanos.
Então, de sua origem sagrada e cerimonial pela Primavera, o carnaval se tornou no início do cristianismo eclesiástico uma festa de permissão para os excessos mundanos. Perto do ano 1.000, em plena época medieval da Idade das Trevas, no período fértil para a agricultura, homens jovens que se fantasiavam de mulheres saíam às ruas e aos campos durante algumas noites.
Mais tarde, no Renascimento Italiano, apareceu a “commedia dell’arte”, com festivais teatrais (desfiles) nas ruas. Em Florença, músicas eram entoadas para acompanhar os desfiles, num cortejo de carros decorados, os “trionfi”. Em Veneza e Roma, os carnavalescos trajavam “bauta”, uma capa com capuz negro que encobria ombros e cabeça, com chapéus de três pontas e máscaras.
A ideia dessas festas medievais é a mesma até hoje: a inversão de papeis e o mundo de cabeça para baixo, sendo abolidas as restrições sociais, morais e até sexuais das pessoas. Houve então em toda Europa, a partir do século XVI, muitas tentativas de cercear as festas carnavalescas, impondo controle social pelo conservadorismo que tentou demonizar as festas populares.
No Brasil, as origens do Carnaval remontam ao período colonial, inclusive com uma brincadeira de origem portuguesa chamada de “Entrudo”, praticada pelos escravos, onde as pessoas saiam às ruas jogando lama e até urina umas nas outras, levando à proibição da festa em 1841. Depois surgiram cordões, festas de salão e escolas de samba. Hoje a diversidade cultural brasileira mantém os maracatus, afoxés e frevos, muito enriquecidas com os Blocos de Rua e suas brincadeiras em família, tradicionais em várias cidades brasileiras.
Carnaval – recuperando hoje a antiga mística da Cerimônia de Fertilidade Primaveril
Samael Aun Weor, mestre da Gnose Moderna, já na década de 1950 aludia ao carnaval como originado em épocas pré-saturnianas (há milhões de anos), onde os ciclos de sacralidade e de degeneração das procissões primaveris já se fazia presente.
Veja o que ele escreve em sua obra Revolução de Bel: “noites de bebedeira e orgia… donzelas de pele morena que caem…”. E, repisamos, ele se refere à época da Arcádia, quando as primeiras humanidades surgiram na Terra.
Continuando, agora se referindo à contemporaneidade de 1952, escreve Samael sobre o carnaval de Ciénaga (cidade colombiana no mar do Caribe): “as pessoas parecem loucas, entregues a … seus apetites mais brutais”.
Hoje então, a você que nos acompanha neste artigo em que desfilamos a história e as diversas nuances do Carnaval, há três opções para usufruir desse feriado festivo.
A primeira é entregar-se à festa popular da sua maneira atual, seja pulando e brincando o Carnaval para divertir-se e “esquecer dos problemas”, dançando horas a fio e cantando antigas marchinhas e novas músicas; ou até mergulhando nos excessos que todos sabemos existirem em determinadas manifestações da festa.
A segunda é aproveitar o feriado para descansar e viajar, ficar em casa e ler, divertir-se com os amigos e familiares, desconectando-se completamente da origem da festa e de suas nuances espirituais e religiosas.
E a terceira, podemos chamar de sugestão gnóstica do que fazer no Carnaval, é tomar consciência de que o Carnaval tem origens sagradas, de que foi adulterado e de que é primordialmente uma festa de glorificação e de anúncio preparativo para a Fértil Primavera (no hemisfério norte – origem da festa). Com isso, podemos aproveitar este período em que as energias do Pai-Sol Equinocial fazem ressurgir as forças da fecunda Mãe-Terra, as antigas Forças Enochianas, e retomar projetos, motivar-se para empreender novas ideias, renovar nossas relações, desfazer-se de amarras e crenças limitantes, refazer nossa agenda de auto-aperfeiçoamento espiritual, eleger livros para estudar, iniciar novas práticas gnósticas, estruturar e organizar compromissos espirituais…
As forças da natureza estão todas a favor do renascimento na época de Carnaval.
Dessa forma você estará conectado e festejando as forças divinas que prenunciam e preparam a Páscoa, a Festa de Ressurreição do Sol.
Sérgio Linke é engenheiro e instrutor de Gnose